Porque, com o tempo, os volumes dos torsos de Maria-Carmen vão se desfazendo em peles. Ocorrem então ligeiras epifanias, momentos em que a pele coincide com o plano, momentos em que a volumetria reduzida ao mínimo coincide com a dimensão planar e não projetiva.
O corpóreo resume-se ao epidérmico e assim antecipa a espécie de densidade material rarefeita característica da poética de Maria-Carmen: espiritualizar a matéria pelo trato amoroso, libertá-la de seu peso e opacidade para torná-la pura aparência estética.
Neste mármore neutro, sem interioridade, o que conta é a superfície. Com frequência, ele é tratado como simples molde de gesso, comprimido à espessura mínima, destituído de força de gravidade, guardando a marca visível das mãos.
Ronaldo Brito